Quando se trata de eficiência, segurança e durabilidade em instalações elétricas industriais, a distância entre o inversor de frequência e o motor não é apenas um detalhe técnico — pode ser o fator que determina a vida útil do seu equipamento. O que muitos profissionais ainda não sabem é que, mesmo um sistema corretamente dimensionado, com cabos adequados e inversores modernos, pode sofrer danos sérios por causa do efeito corona e das descargas parciais.
Neste artigo, você vai entender o que é o efeito corona, por que ele ocorre, quais os perigos para o motor elétrico e, principalmente, como evitar esse problema com soluções práticas, seguras e econômicas.
O que é o Efeito Corona?
O efeito corona é um fenômeno elétrico que ocorre quando o campo elétrico ao redor de um condutor ioniza o ar — ou seja, o ar se torna parcialmente condutor. Esse processo gera descargas parciais ao redor dos cabos, especialmente em ambientes com alta tensão e frequência, como os sistemas que usam inversores de frequência (VFDs).
Nos sistemas industriais modernos, os inversores trabalham com pulsos rápidos de tensão usando a técnica PWM (modulação por largura de pulso). Esses pulsos, quando viajam por cabos longos, sofrem reflexões que aumentam significativamente os picos de tensão na entrada do motor. É nesse cenário que o efeito corona aparece, silenciosamente, comprometendo o isolamento do motor até causar falhas graves.
Qual é a diferença entre efeito corona e descarga parcial?
É comum confundir os dois termos. A descarga parcial é uma microdescarga elétrica que ocorre dentro de um sistema isolado, sem completar um arco elétrico total. Já o efeito corona é um tipo de descarga parcial — mas que acontece no ar ao redor dos cabos ou conectores, visível às vezes como um brilho azulado e audível como um leve zumbido.
Ambos são prejudiciais e causam degradação progressiva do isolamento, com risco de falhas catastróficas.
Quais os riscos do efeito corona?
Embora invisível à primeira vista, o efeito corona pode ser devastador para motores e sistemas de automação:
Danos provocados pelo efeito corona:
- Perfuração do isolamento dos enrolamentos do motor
- Descargas internas nos cabos e nos terminais
- Aquecimento anormal de componentes
- Redução drástica da vida útil do motor
- Falhas elétricas irreversíveis, como curtos-circuitos internos
- Interferência eletromagnética (EMI) em outros equipamentos
Esses problemas geralmente aparecem de forma progressiva, o que torna o diagnóstico difícil — até o dia em que o motor para sem aviso.
Quando o risco do efeito corona é maior?
O risco se agrava em sistemas com as seguintes características:
- Distância crítica entre inversor e motor
- Distâncias acima de 20 metros são consideradas críticas.
- Reflexões de onda aumentam à medida que a distância cresce, gerando picos de tensão maiores no terminal do motor.
- Alta tensão de alimentação
- Sistemas com 480V, 690V ou mais são mais suscetíveis.
- Quanto maior a tensão, maior o campo elétrico, e mais facilmente ocorre a ionização do ar.
- Frequência de chaveamento elevada
- Frequências de chaveamento acima de 4 kHz aumentam a incidência de pulsos rápidos, ampliando os efeitos nocivos.
Como prevenir o efeito corona?
Felizmente, existem soluções eficazes para evitar o efeito corona e proteger seu investimento. Confira as principais estratégias:
- Use cabos específicos para inversores
Cabos convencionais não foram feitos para lidar com picos de tensão e descargas parciais. Use cabos com:
- Isolamento reforçado
- Blindagem contra EMI
- Resistência a descargas de alta frequência
Esses cabos suportam melhor os esforços provocados pelas reflexões de onda.
- Instale filtros dv/dt ou filtros senoidais
Esses filtros são colocados na saída do inversor e suavizam os pulsos de tensão PWM, diminuindo a taxa de variação de tensão (dv/dt) e reduzindo o estresse sobre o isolamento do motor.
- Filtros dv/dt: ideais para distâncias moderadas (20 a 50m)
- Filtros senoidais: indicados para distâncias maiores ou motores sensíveis (Acima de 50m)
- Reduza a frequência de chaveamento do inversor
Se permitido pelo fabricante do motor e da aplicação, uma redução na frequência de chaveamento pode aliviar os efeitos do PWM sobre o cabo.
⚠️ Atenção: essa alteração pode afetar o desempenho do motor, portanto deve ser avaliada com critério técnico.
- Use reatores de saída (também chamados de indutores de saída
Os reatores de saída funcionam como atenuadores de surto, absorvendo parte da energia refletida ao longo do cabo. São úteis em aplicações com cabos muito longos (acima de 50 metros).
- Planeje a instalação com critério
Desde o projeto elétrico, considere:
- Posicionar o inversor o mais próximo possível do motor
- Evitar curvas fechadas ou emaranhados nos cabos
- Fazer o aterramento correto dos equipamentos e cabos
- Utilizar conduítes ou canaletas metálicas aterradas
Como saber se o sistema já sofre com o efeito corona?
Alguns sintomas indiretos podem indicar a presença do problema:
- Motores com ruído excessivo ou vibração sem causa mecânica
- Aparelhos próximos sofrendo interferência
- Quedas repentinas no rendimento do motor
- Falhas intermitentes ou alarmes no inversor
- Mau cheiro (ozônio) em painéis elétricos
Para diagnósticos mais precisos, empresas especializadas usam câmeras UV e medidores de descarga parcial.
A vida útil do motor depende da prevenção
É comum ver motores que, teoricamente, durariam 10 ou 15 anos, falhando em 3 ou 4. E a causa, na maioria das vezes, não é má qualidade — é instalação inadequada ou falta de prevenção contra efeitos como o corona.
Um simples descuido como “deixar o inversor longe demais do motor” pode transformar um sistema robusto em um ponto crítico de falha.
Conclusão: Mais do que potência, é preciso estratégia
Instalar um inversor de frequência é um passo inteligente para eficiência energética e controle fino.
Mas sem o cuidado com distâncias, filtros e cabos, o que parecia economia pode se tornar um prejuízo silencioso e constante.
Se você é responsável por sistemas industriais, entenda:
- Instalação elétrica não é só sobre potência. É sobre integridade.
A vida útil do seu motor depende da sua atenção agora.
Faça do jeito certo. Fale com quem entende.
Quer garantir que sua instalação está protegida contra o efeito corona?
Conte com profissionais qualificados para especificar os cabos, filtros e reatores corretos para sua aplicação.
Fale com nossa equipe técnica e evite surpresas.
Sua segurança e seu investimento merecem proteção de verdade.